segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Guerra do Fogo e Semiótica



            O filme A Guerra do Fogo (La Guerre Du Feu,81, Fra/Can) retrata como era a civilização há 80.000 anos atrás, período este, anterior ao uso da língua, tendo a linguagem gestual muito intensa. A história mostra como duas tribos diferentes de hominídeos acabam tendo seu primeiro contato, uma dessas tribos é pouco evoluída (Noah,Gaw e Amoukar – membros principais dessa tribo no filme), não domina a técnica do fogo, (considerado símbolo de proteção naquela época), não entendem o que é um sorriso, que é considerado uma manifestação simbólica de acordo com a semiótica da cultura e um sin-signo, indicativo de acordo com Peirce, e vivem de forma extremamente rudimentar. A partir do momento em que encontram uma mulher de uma tribo mais evoluída (Ika) que estava aprisionada por canibais e começam a conviver com ela, esse comportamento começa a mudar, pois ela ensina a eles o que antes era desconhecido, desde a fazer fogo, até uma nova forma de reprodução. 
            Porém as maiores lições aprendidas seriam as experiências de um lado cultural, como habitações e ritos, já existentes na tribo dessa mulher e principalmente o aprendizado de uma forma mais complexa de se comunicar, com maior número de sons articulados.
             Em relação à cultura podemos identificar no filme como Ika  usou uma das raízes da semiótica da cultura para mostrar para os integrantes da outra tribo como olhar o mundo de uma forma diferenciada, no momento em que ela ri de uma pedra jogada na cabeça de um deles mostrando um estado de êxtase. Ao chegar da tribo de Ika pode-se notar que há vários rituais, quando um dos integrantes da tribo menos evoluída chega, ele é recebido com muita comida e bebida, e as melhores mulheres da tribo são ofertadas a ele.
              Isso mostra a que o desenvolvimento daquela tribo, necessitava estabelecer vínculos com a experiência e simbolizá-la (ontogênese) e é possível até dizer que isso era feito (por aquela tribo) como tradição, e que foi passado para seus descendentes (filogênese). E no final a tribo menos complexa, adere a certos costumes, da tribo de Ika


                 "Reconhecendo a existência da cultura como tal, significa reconhecer que todas estas atividades atendem a regras comuns, e assim não existem as fronteiras que isolam umas das outras, não permitindo que se comuniquem entre si. A cultura é um macrossistema comunicativo que perpassa todas as manifestações e como tal deve ser compreendido para que possam compreender assim as manifestações individuais." (BAITELLO,1999,p.18).

Voltando ao tema da importante lição da maior complexidade da comunicação com sons mais articulados, é completamente coerente que isso seja relacionado com a semiologia de Ferdinand de Saussure, já que ela trata da linguagem verbal, e do seu significante e significado. A partir do momento em que é ensinado para Noah,Gaw e Amoukar a possibilidade de articulações de sons na comunicação mais complexa, houve a maior facilidade de troca de informações, que talvez não pudesse ser expressa pelo gesto, já que pela língua, que é um sistema de valores entendidos como diferenças, e que surgem oposições de um signo em relação a outro signo e da oposição desse signo em relação a todos os demais, podemos notar como maior percepção as distinções de idéias.
O que é vinculado entre o emissor e o receptor é o conjunto de significado pelo significante, quando o emissor se põe a comunicar ele o faz propositalmente, ele tem um nível psíquico ( intenção de se comunicar) e ele passa isso para o agente através da fala, ele emite seus pensamentos através das palavras e sons que passa para o meio físico (ondas sonoras), e finalmente para o receptor que atribui para aquela fala um significado. (É isso que começa a acontecer no decorrer do filme, com Ika e Noah)
O filme nos mostra a origem da linguagem e é importante notar que os signos estabelecidos são completamente arbitrários, e que instituindo a relação do significado e do significante, convencionando-o, ela se torna legitimada. “O princípio da arbitrariedade do signo não é contestada por ninguém” (SAUSSURE,19--,p. 82). A linguagem é um produto social e sua tendência é ser constantemente materializada e reproduzida pela comunidade falante, porém ela se perpetua.
Para finalizar, é importante saber que há uma grande característica paradoxal na língua, o fato dela ser imutável, pois ela continua no tempo, ela vai sendo refeita continuamente por nós, porém segue uma mesma estrutura, e também é mutável, pois palavras entram em desuso, há mudanças na grafia e naturalmente sofre alterações.
 E graças a isso, hoje temos uma linguagem complexa e não tão rudimentar como o das tribos do filme A Guerra do Fogo, que naquela época era considerada tão complexa.


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